Roberto Betancourt, diretor do Departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Deagro/Fiesp), comenta os principais resultados do estudo “Outlook 2029 – Projeções para o Agronegócio Brasileiro”, recém-lançado pela entidade.
AI – O Deagro/Fiesp lançou recentemente o “Outlook 2029 – Projeções para o Agronegócio Brasileiro” com projeções futuras do agro. Neste relatório, o impacto causado pela pandemia de Covid-19 já foi contemplado?
RB – O relatório foi todo revisado antes de seu lançamento com relação à Covid-19, em um trabalho excepcional da MB Agro, a qual nos deu todo o suporte. O que nos mostra os resultados deste estudo? O Brasil ganhou maior relevância nas cadeias de aves e suínos porque não houve interrupção logística nem no abate nem no abastecimento. Provamos que o país é um parceiro confiável. Claramente, o Brasil está saindo fortalecido do estresse da Covid-19 nos mercados globais. Em longo prazo, acreditamos que esta pandemia não será impactante dentro das cadeias de aves e suínos. Os volumes continuarão a crescer e os fluxos de negócios nos mercados internacionais continuarão em ritmo forte.
AI – No Outlook, as projeções apontam para uma produção de 17,2 milhões de toneladas de carne de frango até 2029, com a perspectiva desde ano de fechar com 14,5 milhões de toneladas produzidas. Há demanda para um crescimento deste tamanho?
RB – As exportações de frango irão crescer, segundo nossas estimativas, em torno de 48% neste período. É um aumento bem maior do que o consumo doméstico, que deverá se ampliar em algo próximo a 21% nestes dez anos. O grande driver motivador deste aumento da demanda realmente será a exportação, mas entendemos que o consumo per capita do frango no Brasil passará dos 45,9 kg, dado de 2019, para 52,2 kg em 2029. Teremos um aumento de 14% no consumo per capita brasileiro. Isso resulta de um pequeno crescimento populacional, mas também decorrente de uma maior busca pela proteína de frango.
AI – Invariavelmente, se diz que o consumo per capita de frango no país atingiu o seu teto. No caso, há um espaço para crescimento ainda?
RB - É preciso analisar que uma parte deste aumento no consumo per capita brasileiro se dará em detrimento do consumo de carne bovina. Haverá migração maior do consumo do boi para o frango. A carne bovina tem se tornado cada vez mais um artigo de luxo e um produto caro. Então, mesmo com um consumo já elevado, prevemos uma maior demanda interna pelo frango neste período.
AI – O mercado de ovos também irá crescer dentro do período analisado pelo Outlook?
RB – O consumo de ovos é, dentre as proteínas animais, o que mais cresce no Brasil. A previsão de um aumento de 46%1 em sua produção até o ano de 2029. O consumo per capita irá saltar de 17,11 dúzias para 23,5 dúzias por habitante/ano. No mercado doméstico, o ovo é imbatível. Não só por ser um produto acessível, mas também por ter superado os mitos ligados à saúde que prejudicavam o seu consumo. Além disto é uma proteína de fácil preparo, prática para o consumo doméstico.
AI – Em termos de exportação de ovos, há expectativa de melhores resultados?
RB – Em relação ao mercado externo, acreditamos que isto depende da eficiência logística. O ovo, por ser um produto barato, tem no frete um peso enorme na viabilidade das exportações. Para o Brasil se tornar um player importante, terá de melhorar toda a eficiência da sua logística, seja aérea, marítima ou rodoviária. Dentro da porteira, o país é referência em produção. Só que é preciso ter ganhos que independem do produtor, que são os que envolvem a infraestrutura para que esta exportação se torne viável. É bom lembrar que o Brasil é um importante exportador de ovos férteis, só que por serem um produto de maior valor agregado, toleram um custo logístico maior. Mas, com a melhoria da infraestrutura, o Brasil terá sim uma crescente participação no mercado internacional de ovos para consumo.
Fonte: Avicultura Industrial